segunda-feira, 10 de agosto de 2015

O Brasil na Segunda Guerra: Três poemas de Nelson de Godoy Costa


EXPEDICIONÁRIO

Eu tenho de você, pracinha brasileiro,
Tamanho orgulho que não cabe no meu peito,
Por isto se extravasa nestes versos.

Preciso confessar-lhe uma fraqueza.
Essa fraqueza é minha imensa glória.
Eu tive inveja de você!

Eu que nunca invejei coisa alguma no mundo;
Que desprezei a fama, a glória literária,
Que nunca dei sequer a menor importância
Às riquezas do mundo e às vaidades da vida,
Eu tive inveja de você!

De você que eu não sei como se chama!

Nem me importa saber seu nome de família,
Se eu leio com os olhos marejados
De orgulho e de emoção em sua braçadeira
O seu nome: - Brasil
Eu quis partir como você partiu!

E a mágoa de ficar, apenas foi curada
Pela consciência do dever que estou cumprindo.

Eu, também, legionário brasileiro,
No sacerdócio santo a que entreguei a vida
Sou soldado de um exército invencível!

Minha existência a todo o instante é oferecida
Em holocausto ao grande ideal. E eu sinto
A glória de lutar, de viver, de morrer
Cada dia em favor da grande causa.

Eu também sou soldado brasileiro,
Como você, expedicionário, vitorioso!
E tenho me empenhado a fundo na batalha
Para vencida a guerra alicerçar a paz.

Glória a você, meu grande irmão! Meu bravo!
Meu grande herói! Extraordinário herói!
Soldado brasileiro!



SOLDADO CAMPINEIRO

Este poema, homenagem do autor, então pastor em Campinas, ao expedicionário campineiro foi lido pelos locutores de rádio várias vezes e muito declamado por jovens campineiras nos salões em festa.

Quando você partiu entre lágrimas quentes
De saudade, de orgulho e de emoção,
Eu bem sei que através da névoa de seus olhos
Brilhou, encantadora, a esplêndida visão
Da volta triunfal
À cidade natal.

Você partiu levando no seu peito
O grande ideal do moço brasileiro.
E sob o céu distante de outras terras
Mostrou ao mundo inteiro
Que o Brasil não é ninho de cobardes,
Mas é pátria de heróis.

Que toda a sua História
Bem se pode narrar numa palavra apenas,
E essa palavra é Glória!

Por isso é que você regressou triunfante!

E se custou chegar o dia da partida
Para os campos da luta, onde, valente,
Você deu tudo quanto tinha pela pátria,
E para onde teve pressa de partir,
Com que custo, depois do Dia da Vitória
Alvoreceu o instante do regresso,
Da volta triunfal
À cidade natal!

Gigantescos transportes sobre o oceano
Conduziram-no à pátria vitoriosa,
À pátria que você glorificou.

Rio de Janeiro! Paulicéia engalanada
Multidões em delírio ovacionando
O filho herói que volta à grande pátria.
E através de seus olhos marejados
Você teve a visão esplendorosa
Da cidade natal,
De onde partiu soldado,
Para voltar glorificado
Extraordinário herói em volta triunfal.

Os mesmos braços que o abraçaram na partida
Hão de abraçá-lo ardentes na chegada.
Os mesmos olhos que choraram de tristeza
Hão de chorar agora de alegria.
E o mesmo coração o coração de sempre,
O coração que não cessou de amar
Continuará pulsando venturoso.
E há de estreitá-lo carinhosamente,
Soldado campineiro,
Quando você chegar
À terra campineira,
Ao seu querido lar.


O SOLDADO BRASILEIRO QUE FICOU

(Para que a Pátria viva, ele morreu)

Num cemitério silencioso de Pistóia
Você ficou sonhando eternamente
Seu grande sonho de imortalidade.
É cemitério de uma pátria irmã,
Por isto, embora nossa dor seja tamanha,
Não o deixamos numa terra estranha.

No supremo esplendor de sua mocidade,
Quando a Vida acenava as mais lindas promessas,
E você era todo intensa vibração
De espírito, de cérebro, de músculos,
Você imolou-se em prol da Pátria grande e livre!

Por isto mesmo a Pátria-mãe jamais o esquece!
Ajoelha-se e soluça compungida,
- Olhos em pranto, coração em prece, -
Porque você não era apenas uma vida,
Mas expressava na existência esplendorosa,
A vida eterna de milhões de brasileiros!

O cemitério silencioso de Pistóia
Em cada sepultura encerra um monumento!
Cada túmulo fala! E, à eloquência suprema
Os próprios céus se curvam para ouvir
Da grandeza, do ideal, do amor e da bravura,
Com que você, soldado brasileiro
Mostrou ao mundo inteiro
A sua envergadura
E o valor sem igual da terra onde nasceu!

Se é certo que você não veio juntamente
Não marchou lado a lado
Com seus irmãos heróis, mas ficou sepultado
Sob outros céus, sobre outras terras de além mar,
Seu sepulcro sagrado é o maior desafio
Às gargantas da morte e às potências do mal!
E mais do que soldado hoje você é herói!
Mais que herói, é imortal!


Do livro Vida (São Paulo: Imprensa Metodista, 1952).

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